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CPTED: Como o desenho das cidades pode prevenir o crime

  • João Renato
  • 16 de out.
  • 3 min de leitura

Por João Renato Borges Abreu

Mestre em Direito e Políticas Públicas, policial penal do DF e coordenador do NISP.


Uma parede pichada, uma calçada quebrada ou um poste apagado podem parecer detalhes banais. Mas, para quem estuda segurança pública, esses sinais são mais do que simples problemas urbanos: são convites silenciosos ao crime.


Essa lógica é explicada por uma abordagem que vem ganhando força no mundo inteiro: o CPTED, sigla em inglês para Crime Prevention Through Environmental Design, ou Prevenção do Crime por Meio do Design Ambiental.


A ideia que mudou a forma de pensar segurança


O conceito foi formulado na década de 1970 pelo criminologista C. Ray Jeffery, que defendeu uma tese simples e poderosa: o ambiente físico influencia diretamente o comportamento humano, inclusive o criminoso.


Em vez de reagir ao crime, o CPTED propõe prevenir. E a prevenção, nesse caso, começa com a maneira como organizamos e cuidamos dos espaços públicos e privados.


Antes de Jeffery, duas contribuições foram fundamentais para consolidar essa ideia. Em 1961, a urbanista Jane Jacobs publicou o clássico “Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas”, defendendo a importância da vigilância natural, pessoas nas ruas, espaços vivos e bem iluminados, onde a presença coletiva desestimula o crime.


Pouco depois, em 1972, o arquiteto Oscar Newman lançou o conceito de “espaço defensável”, que mostra como o senso de pertencimento e a clara divisão entre áreas públicas e privadas fortalecem a proteção comunitária.


A conexão com a Teoria das Janelas Quebradas


A lógica do CPTED se conecta diretamente com a Teoria das Janelas Quebradas, formulada em 1982 pelos criminologistas George L. Kelling e James Q. Wilson.

No experimento que deu origem à teoria, dois carros idênticos foram abandonados: um no Bronx e outro em Palo Alto. O carro no Bronx foi rapidamente vandalizado; o outro permaneceu intacto, até que uma janela foi quebrada. A partir desse momento, ele também foi depredado.

A conclusão foi clara: sinais de desordem, por menores que sejam, comunicam abandono e favorecem o avanço da criminalidade.


Os quatro pilares do CPTED


A aplicação prática dessa abordagem se apoia em quatro eixos principais:


1) Vigilância natural: Iluminação adequada e espaços abertos, que permitem que as pessoas vejam e sejam vistas.


2) Controle de acesso: Barreiras físicas e visuais que dificultam a entrada de pessoas não autorizadas e direcionam o fluxo de circulação.


3) Reforço territorial: Delimitação clara entre áreas públicas e privadas, fortalecendo o senso de pertencimento e responsabilidade.


4) Valorização dos espaços: Manutenção constante, limpeza e uso ativo dos locais, transmitindo uma mensagem de cuidado e presença.


Urbanismo, comunidade e segurança


Mais do que um modelo técnico, o CPTED representa uma mudança de mentalidade. Ele mostra que segurança pública não depende apenas de policiamento ostensivo ou de endurecimento penal, que são importantes, mas complementares.

Cidades bem planejadas, iluminadas e cuidadas desestimulam oportunidades criminosas, fortalecem vínculos sociais e promovem qualidade de vida.


Essa abordagem também valoriza o papel da comunidade. Moradores atentos, com senso de pertencimento e espaços bem utilizados, tornam-se agentes ativos de prevenção. E quando o ambiente comunica ordem e cuidado, a criminalidade perde espaço.


O desafio brasileiro


No Brasil, onde a sensação de insegurança é alta e a desordem urbana é visível em muitas cidades, aplicar estratégias inspiradas no CPTED pode ser um passo importante para reduzir a criminalidade local, fortalecer o convívio comunitário e desafogar as forças de segurança.


Experiências internacionais, como as implementadas em Nova York nos anos 1990 e em Medellín nas décadas seguintes, mostraram que ambientes bem cuidados ajudam a mudar comportamentos e a reduzir índices de violência.


Conclusão


O CPTED não é apenas uma teoria acadêmica, é uma estratégia prática, eficiente e de baixo custo.


Cada poste aceso, cada muro pintado e cada praça bem cuidada enviam uma mensagem poderosa: “este espaço tem dono”.


Quando a cidade mostra cuidado, o crime pensa duas vezes antes de agir.


Segurança pública não começa com sirenes… começa com urbanismo inteligente, planejamento estratégico e uma comunidade que ocupa o seu território.

 
 

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