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O Truque Usado Para Manipular a Opinião Pública sobre a Polícia

por Leo Vasconcellos


Falamos de um clichê desgastado, mas mais atual do que nunca, ao abordarmos o viés ideológico da imprensa. Contudo, mesmo uma leitura crítica pode deixar escapar truques primários que visam à manipulação da audiência, induzindo sensações em relação a um determinado grupo.



E antes de bradar sobre a doutrinação inerente à Academia brasileira e ao repúdio à polícia incentivado dentro dos cursos de jornalismo, peço ao leitor que faça um exercício simples cada vez que receber notícias por meio de seu celular:


“Qual é o objetivo de quem trouxe esses fatos até mim?”


Ou, ainda, de forma mais específica:


“O que o redator quer que eu sinta ao ler essas linhas?”


Com essas perguntas em mente, peço ao leitor que acompanhe as seguintes manchetes:




O leitor mais atento provavelmente percebeu que o verbo escolhido para dar voz à polícia repete-se em diferentes manchetes, em diferentes veículos, em diferentes eventos: “dizer” Parece ser a escolha favorita dos redatores quando fazem suas citações de integrantes da segurança pública.


No entanto, quando há manifestações em tom negativo, outros recursos parecem surgir:





Para além da mera retórica, é válido questionar a escolha dessas palavras, ainda tendo em mente as duas perguntas que abrem este artigo. Mesmo o defensor mais ferrenho da suposta neutralidade da imprensa seria obrigado a admitir que existe, sim, um padrão. Aponto, então, o óbvio: “dizer” é um verbo usamos para atribuir menos credibilidade a quem fala.


“Diz ele, não é mesmo?”


Da mesma forma, contrapondo “dizer” às outras palavras usadas para citar pessoas que acusam a polícia de algum crime, salta aos olhos a diferença de significado quando usamos “contar” ou “relatar” para o discurso indireto.


“Testemunhas contam”.


Além do alinhamento de estilo e erros gramaticais, a escolha do verbo “dizer” deixa claro que a desconfiança deve sempre pairar sobre as palavras e ações dos policiais, e não dos suspeitos de crimes. Parte-se do pressuposto de que a polícia mente, e esta é a postura dominante nos jornais da grande imprensa.


Leitores mais antigos provavelmente se recordam de um dos verbos queridinhos do jornalismo usado para insinuar desconfiança: “alegar”, o dito verbo dos réus.




Nos últimos anos, a pobreza vocabular e as próprias limitações intelectuais dos jovens de 40 anos que povoam as redações parecem ter forçado a substituição de “alegar” por “dizer”. Cabe observar que “alegar”, ainda que em desuso, vez ou outra é utilizado nas redações... para se referir à polícia.



E não se trata apenas da polícia: basta observar a forma como são feitas as citações para verificar, com facilidade, em qual dos personagens devemos acreditar e de qual devemos debochar.




Mais uma vez, pergunto ao leitor se há alguma dificuldade em perceber a qual dos relatos deseja-se dar ares de verdade comprovada.


E, em uma emissora que frequentemente enaltece a participação feminina no debate público, bem como diz que nenhuma mulher vítima de violência deve ser desacreditada, reparem que nem todo relato feminino é tratado com seriedade:



Mesmo o racismo, supostamente repudiado pelos jornalistas, não parece digno de crédito quando é denunciado por um policial:



Ironicamente, o chavão desgastado de “mídia manipuladora” tão popular nas últimas décadas, parece ter cedido lugar a um novo tipo de mantra: de que não devemos em hipótese alguma “atacar a imprensa”, buscando sempre “fontes confiáveis”, ou mesmo “oficiais”, rejeitando, assim, as notícias difundidas por redes sociais. Os adolescentes dos anos 90 e 2000, que esbravejavam contra “a televisão”, hoje tornaram-se adolescentes de 40 anos, que reverberam com convicção suas narrativas. Apressam-se para rotular de “teoria da conspiração” qualquer espécie de análise lúcida, que aponte os padrões de alinhamento ideológico que gritam a cada matéria redigida.


Temos, assim, uma nova narrativa criada, aquela que rotula de “discurso de ódio” tudo o que se contrapõe à linguagem hegemônica da “imprensa profissional”, que parece falar, sentir, ver e descrever o mundo rigorosamente da mesma forma. Embriagados pela sanha de fazer prevalecer sua visão de mundo, os jornalistas rejeitam e tacham de “fake news” o próprio substrato do bom jornalismo: contraditório, pluralidade e confronto de narrativas.


Àqueles que consomem esse tipo de notícia e cultivam sentimentos de antipatia, ou mesmo de reprovação às ações policiais, por mais corretas que sejam, fica a sugestão de se retomar as duas perguntas que abrem este artigo. Ignorar nuances de escrita e truques primários de retórica é estar à mercê de quem quer controlar o seu pensamento. Compreender o objetivo de quem escreve é fundamental para não ser manipulado.


Nota: este artigo foi escrito horas antes do atentado contra a vida do candidato à presidência dos Estados Unidos da América, Donald John Trump. A reação aos eventos e os padrões de linguagem uniformes da imprensa brasileira quando noticiaram os fatos são algo digno de análise.

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